Dia da Internet Segura 2012

segunda-feira, 24 de maio de 2010


Adolescentes do projeto Giração e do Centro Salesiano do Menor (Cesam), muitos deles resgatados de situações de risco, lotaram a sala 1 do Cinemark Píer de Brasília na terça-feira (17) para assistir e debater o filme "Sonhos Roubados", de Sandra Werneck, sobre o dia a dia de três meninas que terminam, em algum momento de suas vidas, sendo exploradas sexualmente. Após a exibição do filme, os adolescentes e educadores sociais de organizações que trabalham na prevenção e atenção a vítimas de crimes sexuais participaram de debate com a escritora do livro "As meninas da esquina", Eliane Trindade, e duas das atrizes do filme, Kika Farias e Amanda Diniz. As três meninas do longa-metragem de Sandra Werneck foram inspiradas nas histórias das seis personagens reais retratadas por Eliane em seu livro. Eliane contou aos adolescentes que o livro, que acaba de ganhar sua segunda edição, foi escrito a partir de uma proposta para que seis meninas exploradas sexualmente passassem a contar o seu cotidiano em um diário. O Instituto WCF (Childhood Brasil), que promoveu o debate de terça-feira, ajudou a escritora a encontrar as meninas. A exibição do filme e o debate foram parte das atividades da semana do 18 de maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, que tem entre seus organizadores a Frente Parlamentar pela Defesa dos Direitos das Crianças e Adolescentes, coordenada no Senado pela senadora Patrícia Saboya (PDT-CE).

"As meninas não conseguiam escrever os diários, embora estivessem na escola. Passamos a gravar o que elas diziam. Esta é a primeira denúncia", criticou Eliane Trindade, referindo-se à má qualidade das escolas públicas, incapazes de alfabetizar parte da população carente. "Duas delas não estão mais aqui", revelou a escritora, se emocionando e levando parte da platéia também às lágrimas. Uma das adolescentes do livro está desaparecida há um ano e meio e suspeita-se que tenha sido morta por queima de arquivo.

Um dos estudantes da plateia quis saber como as duas atrizes se prepararam para os papéis. Kika Farias disse que leu o livro e participou de uma oficina no grupo de teatro Nós do Morro, da favela do Vidigal no Rio de Janeiro. Amanda chegou a morar com uma tia no Vidigal. "Fomos pegando o jeito de dançar, de andar, também fomos a um baile funk", contou Kika que teve o desafio extra de interpretar uma menina de 16 anos embora já tenha 25. Nas aulas de interpretação com a professora Camila Amado, as duas tinham que aprender a deixar a própria personalidade de lado para "entrar no personagem", sem que a questão da exploração sexual "mexesse tanto com o psicológico", contou Amanda. A atriz mais nova ponderou que o filme "não é só triste, tem também o lado feliz que é a denúncia (dos abusos sexuais que sua personagem, Daiane, sofria do tio que a criava)".

Eliane Trindade ressaltou ainda outro fenômeno perverso que aparece fortemente no livro, mas não no filme. Com o advento do Viagra, muitos homens velhos passaram a explorar crianças e adolescentes. "Eles têm o dinheiro da aposentadoria e voltaram a ter sexualidade por causa do Viagra", constatou.

Homenagens a Neide Castanha

No primeiro 18 de maio sem Neide Castanha, as entidades que organizam as ações resolveram tentar preencher o vazio deixado pela assistente social- morta no início deste ano em razão de um câncer- com uma série de homenagens a ela. A semana começou com uma Sessão Solene no Plenário da Câmara dos Deputados dedicada à memória da ex-Secretária Executiva do Comitê Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, que lutou em diversas frentes para debelar esse tipo de crime no Brasil. Uma das pessoas a falar foi o filho mais velho de Neide, Uirá Castanha. Há vinte anos, Neide participou ativamente do processo de construção do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e da criação do Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual. Sua atuação foi fundamental no processo de discussão e investigação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que investigou redes de exploração sexual infanto-juvenis no Brasil, presidida pela senadora Patrícia Saboya entre 2003 e 2004. Foi ainda fundadora e coordenadora do Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes (Cecria).

No próprio dia 18 de maio, terça-feira, meninos e meninas de ONGs voltadas à proteção de vítimas de abuso e exploração sexual plantaram flores nos jardins do Ministério da Justiça. A flor é o símbolo da campanha "Faça bonito. Proteja nossas crianças" criada por Neide Castanha para o 18 de maio. No Salão Negro do Palácio da Justiça, ainda na presença dos adolescentes, foi lançado o Prêmio Neide Castanha de Direitos Humanos de crianças e adolescentes, que tem por objetivo reconhecer publicamente pessoas físicas e jurídicas que merecem destaque no enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes. Ele será concedido nacionalmente pelo Comitê Nacional de Enfrentamento e pela Comissão Intersetorial de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. Os prêmios de reconhecimento serão dados em cinco categorias: boas práticas; produção de conhecimento; cidadania; protagonismo de crianças e adolescentes e responsabilidade social, este voltado para empresas promotoras da cidadania cuja atuação esteja comprometida com o tema. Os detalhes estão no site do Comitê Nacional.

Na cerimônia, a poetisa e atriz Elisa Lucinda, amiga e colaboradora de Neide, leu dois poemas de que a assistente social gostava muito. Um deles, "Lua nova demais", fala sobre uma menina de rua que vê seu corpo mudar sem ter sequer as condições mínimas de higiene para lidar com sua nova realidade. A Ministra do Desenvolvimento e Combate à Fome, Márcia Lopes, e o Ministro da Secretaria de Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, falaram sobre as políticas do governo que podem ajudar a melhorar as condições de vida dos meninos e meninas brasileiros.

Márcia citou o combate à fome e ao desemprego, a redução das desigualdades, a diminuição da mortalidade infantil e o aumento do número de crianças nas escolas. Além do próprio Prêmio Neide Castanha, que tem participação governamental, Vanucchi também não citou nada especificamente voltado para o combate aos crimes sexuais. E conclamou as grandes empresas (Vale, Petrobrás, construtoras de estradas e hidrelétricas) "a levarem o compromisso do combate à exploração a cada acampamento de obras" e convidou ainda hotéis, restaurantes, casas de entretenimento a se unirem à proteção a crianças e adolescentes.

Matéria enviada pelo e-mail pelo gabinete da Senadora Patrícia Saboya
Gabinete Senadora Patrícia Saboya
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Fax: (61) 3303-2865 Correio: patricia@senadora.gov.br

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